sábado, 21 de setembro de 2013

Abstinência de amor


Abstinência de amor

 

Confessei ao psicanalista, acabei por assumir minha patologia: abstinência amorosa.

Há algumas semanas vinha relatando a dificuldades dos dias, falta de motivação, inspiração na hora de escrever ou compor, falta de concentração nas aulas, ate minha fome resolveu fugir de mim.

Relatei uma vez, que sempre tive azar em ganhar presente, mas não comentei desse ultimo dia dos pais.

Eu disse que eu tinha saudade de algo que sempre me fez feliz, mesmo triste ou confuso, tava feliz, ele Dr. Fausto, falou que a saudade que eu tinha, era dela. Não entendi o porque, apenas não quis continuar o assunto que tanto de aflige, mesmo assim ele sabendo continuou:

- Você a ama?

- Sim.

- Esse amor... é dela. Não seu. Apenas é seu, aquilo que você doa.

Pensei tudo em milésimos de segundo em uma respiração que me durou dois peitos cheios e um diafragma vazio...

“A saudade dela, sou eu que cativo... O amor eu reprimido por medo da saudade dela...é minha.... mas  se ela sentir saudade minha eu posso falar com ela... mas ela falou que eu deveria procurar... será que o amor dela acabou ou a saudade não fez ela lembrar de mim...?”.

Perguntei quando o Mal de Alzaimer pode manifestar, ele disse que só afeta o lado cognitivo... alguém na beira da morte e do esquecimento e da morte esquecida lembra de quem ama e tem saudade.

Sensível a ponto de chorar na “sessão da tarde”, é mais fácil enfrentar  a si mesmo, que alimentar-se de outra mentira.

Nunca que assumiria a ela que ainda a amo, que penso em ligar todos os dias faltando minutinhos para seis... o psicanalista ganha pra isso. Eu nunca assumiria minha patologia.

Não sei onde andas, pediu-me não mandar noticias...

E hoje após a aula, eu  vi: Linda como sempre, negra, cabelo black, sapato melissa da cor vermelha, um colar vermelho, e impecavelmente trajando um vestido solto... de longe parecia que eu sentia seu cheiro... já tinha na boca o gosto de seu beijo... era de longe, apertei meus passos, tremulei a voz e pronunciei seu nome, sem ela olhar para tras; um paulistano latinocosmopoliurbano, chegar a ser inocente acreditando na sorte, pensar que ela estava aqui.

Não era ela.

Chorei de novamente, e entrei no museu de zoologia...

Confesso que fiquei com medo de ver meu nome lá, no Ipiranga.

E assumo por mim mesmo, sem ciência alguma... Se eu tivesse visto ela mesmo, mesmo que antes, saberia que o que eu sinto é falta de amar e ser amado, amado por ela, que eu sei onde que existe e onde esta, mas o que eu posso fazer por agora é visitar o museu do museu do Ipiranga, mesmo que para ler uma carta de amor, e treinar o choro contido.